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Textos
 
Dentre a multiplicidade de temas que a arte contemporânea sugere, encontram-se ponderações relativas à busca de uma verdade e os possíveis desdobramentos resultantes de sua ... inexistência. É, exatamente, neste movimento pendular entre o “sim” e o “não”, que parece ocorrer a oscilação de grande parte da produção atual. De um lado uma visão idealista, centrada, talvez, na clássica noção de herança da natureza. Do outro lado, uma posição cartesiana, norteada pelos desdobramentos de uma lógica que vê a arte pelo ângulo da cultura.

Penso que o trabalho de Walter Guerra encontra-se no limite entre essas ponderações. Ao mesmo tempo que são formas remanescentes de uma memória ancestral e de um território proto-orgânico; são também resultantes de projetos, cálculos e operações exatas, para a formação de “dobras” e de estruturas de “engates” que, de imediato, seduzem e conquistam o espectador - devido à leveza de suas soluções precisas (módulos que se encaixam para formar um “todo”).

Outro dado que chama atenção em suas esculturas, relaciona-se ao conceito de “volume” e às suas questões específicas. Tradicionalmente (incluindo-se, aqui, uma ironia sobre as “não-regras” do contemporâneo), escultura define-se por “volumes sólidos ocupando um espaço”. No entanto, seu trabalho é formado por barras de vergalhão, que no lugar da ocupação espacial, apenas contornam o espaço, sugerindo, com isto, um volume contido (que, no caso, é o próprio vazio). Isto é, as linhas de ferro desenham limites, porém, a escultura somente se realiza quando ocorre a integração entre a matéria e o espaço interno (a ausência). Uma discussão adversa. O volume é substituído pelo vazio e pela transparência, sem que, no corpo a corpo, a imponência seja perdida. Não mais a matéria compacta, mas módulos que se repetem em contínuos encaixes, formando unidade e, também, contradição. A escultura não termina em si mesma. Fica sempre a impressão de que os módulos poderiam, infinitamente, repetirem-se; ultrapassando, assim, a fronteira do espaço/tempo. À maneira de “As Mil e Uma Noites”.
Cesar Brandão
1997