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Parece que o espírito morno, niista e impessoal da cena artística dos anos 80 vem se despedindo nessa primeira metade dos 90 para ceder lugar às questões éticas e pessoais na arte. “Assuntos proibidos” - política, religião ou mística, a ideologia, os “estados da alma” , os confrontos com a realidade (cuja ausência resultou no que eu chamo de arte de “revestimento” ou de “fachada”) agora voltam à tona na manifestação artística com tamanha força que por mais estranho que nos pareça não podemos mais omití-los ou deixar de abordá-los a partir de uma ótica que se volte para a compreensão do fenômeno da vida nos dias de hoje. A visão social e antropológica volta a se inserir no cenário das artes configurando uma espécie de “novo romantismo”, impregnado de simbologia, nas poéticas da década de 90.

Baudelaire, o maior poeta romântico, alertava a burguesia em sua “ode aos burgueses” e solicitava sua atenção; avisava que esta poderia viver sem pão ou vinho, porém jamais sem poesia! Se a poética gera ilusão é para que se tangencie a esperança, para que se recupere a capacidade de sonhar e, talvez assim, para que se criem forças mobilizadoras que nos permitam interagir com o mundo.

O carioca Walter Guerra nos propõe estruturas vertebradas realizadas em vergalhões de ferro. O contraponto visível/invisível se espraia na ocupação do espaço físico, a costura se revela nos esqueletos encaixaveis onde a recuperação do tempo entre o encaixe de uma vértebra e outra é a tentativa de busca de congelamento de um presente contínuo, busca de reversibilidade antes que o futuro se sobreponha ao espaço. a corporeidade do visível é o presente - os cheios de esqueleto, ao mesmo tempo intangíveis pelo vazio criado por cada espaço invisível do entre vértebras. (Resiste ao tempo) Tempo costurado, tempo capturado.

A obra deste artista alude a emergências latentes como a crítica social, a ética, o medo, o simbólico.
Seriam os artistas, amadurecendo suas linguagens juntamente com vários outros da sua geração, os formadores de uma poética renovadora, romântica por excelência, que abrirá novas possibilidades para a arte?